quinta-feira, julho 25, 2002

Eu tive uma amiga que sempre comprava a passagem da poltrona de número 21. Alheia a tudo e a todos, nunca tinha me dado conta disso até que alguém a indagou a respeito da preferência. Superstição? Coincidência? Costume? Não. A coisa não era tão simples assim. A teoria era a seguinte: a poltrona fica na janela que tem a saída de emergência e é do lado do motorista. Além disso, segundo a mesma, as estatísticas sugerem que numa situação de perigo, o condutor sempre tenta livrar a própria pele por instinto e quem acaba se ferrando, é o povo que está do lado oposto.
Anos se passaram, a amizade acabou, e é triste perceber que uma pessoa é lembrada somente por uma poltrona de ônibus e que nenhum sentimento a mais resta: nem mesmo ódio, rancor, pesar...e que nem ao menos esse fato serviu pra me fazer pensar melhor na hora de escolher um lugar pra me sentar. Simplesmente pelo fato de que a paisagem do outro lado é muito mais bonita, principalmente quando esquecemos das paranóias e nos entregamos à ela. Fora isso, o que tiver que ser, será.